Passei quatro anos sem ir à histórica geladaria da Avenida da Igreja. Depois da Tragédia do Pistáchio, dei por encerradas as investidas, num misto de receio físico e orgulho pessoal. Há tempos, todavia, num dia de calor magrebino, regressei com os miúdos (“pai, por favor, não te zangues com o senhor”), e constatei que o templo dos Tarlattini, a família mais freak da gastronomia lisboeta, continua um sítio divertido e está mais sereno. Meia dúzia de notas de reportagem:
- À minha frente estava uma senhora que hesitou trezentas vezes nos sabores e, no fim, pediu quatro copos de água. A mãe Conchanata a tudo sorriu. Soup for you.
- Os filhos Conchanata cresceram e têm muitas tatuagens.
- A mãe Conchanata tatuou um mocho no braço e ganhou um piercing no nariz.
- O pai Conchanata, que já teve uns bigodes épicos, apresenta agora uma barba de druida em V, igualmente épica.
- As filas imensas da Conchanata estão para as lojas de gelados como o “quase esgotado” está para os concertos da ZDB.
- A gerência continua a optar por ter só uma pessoa tatuada a servir de cada vez, embora estejam outros familiares tatuados nas imediações, aparentemente disponíveis.
- Os clientes da Conchanata continuam a usar pullover aos ombros.
- Os clientes da Conchanata continuam a reservar mesas na esplanada antes de estarem servidos.
- Não há qualquer cartaz nas paredes respeitante a reservar mesas na esplanada, apesar de haverem vários cartazes respeitantes a várias coisas.
- O gelado de pistáchio da Conchanata já não é uma mescla de amêndoa amarga e agora sabe mesmo a pistáchio.
- Pedir quatro copos de água é o mínimo que se deve pedir depois de ingerir um gelado da Conchanata.
- A Conchanata continua irresistível.
0 comments on “Conchanata, o regresso”