Ao chegarmos à Rua 17, em Dupont Circle, em Washington D.C., em busca do Little Serow, só vimos carros da polícia de um lado e do outro, atravessados, as luzes rodopiando freneticamente, e uma multidão de gente no meio.
Um tumulto? Um ataque bombista? Um Benfica – Porto?
Não, era só a High Heels Race ( é googlarem).
Ultrapassado o susto, tratámos de descobrir o restaurante.
Sem qualquer indicação no exterior, o Little Serow fica atrás de uma misteriosa porta térrea, fechada e impenetrável. Lá dentro, o ambiente é o de uma cave escura e underground, velas, banca alta ao centro, e Lykki Li e Florence and the Machine a tocarem no hi-fi.
O sítio não leva mais do que 25 venturosas pessoas, que se entregam sem reservas ao chef. Só uma certeza: a comida é do nordeste da Tailândia e isso significa muita vaso-dilatação e muita alegria.
Sigamos a ordem do festim.
Primeiro, surgiu um crocante de gordura de porco (banha?), polme leve, sabor a torresmo, com uma pasta fresca de chilis e lima à parte, a cortar a gordura. Muito bom.
Depois a sopa de peixe-gato, aromática e cítrica, leite de coco, erva-príncipe, folhas kaffir e malaguetas. Ui, ui.
Ao mesmo tempo chegou um guisado de porco, a carne desfiada, apurada, notas a sarapatel (fígados lá pelo meio?), escondendo grãos de pimenta que explodiam na boca e explodiam magnificamente.
Na segunda parte, quando pensávamos que os níveis de fogo não podiam subir mais, rebentou a bomba atómica. Bolos de arroz frito, ligeiramente caramelizados, embrulhados com amendoins, coentros frescos, sumo de tamarindo, cebola, lima, gengibre e malaguetas — muitas e poderosas malaguetas, verdadeiro napalm a estrebuchar pelo tubo digestivo abaixo.
O grupo de valentes comensais abanou mas não caiu.
A terminar, umas costelinhas assadas com funcho.
Ao deixarmos o Little Serow, a High Heels Race já terminara. Ganhou a noiva.
Fotos da autoria da confrade Helena Cristina Coelho
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