Em 1968, John McPhee escreveu um texto na revista New Yorker sobre Euell Theophilus Gibbons. Gibbons passou a vida a apanhar ervas e legumes dos campos. Durante três anos subsistiu, mesmo, sem comprar qualquer alimento. A sua ambição era ser um escritor de ficção, mas tornou-se num autor consagrado de livros sobre plantas comestíveis, entre eles Stalking the Wild Aspargus.
John McPhee traça-lhe o perfil depois de embarcarem juntos numa prova de subsistência por trilhos da Pensilvânia. McPhee foi um dos homens mais discretos do novo jornalismo norte-americano, embora não menos interessante e importante, revelando uma apetência por temas simples, relacionados com a natureza. É da sua autoria, por exemplo, um livrinho monotemático sobre laranjas, com o bonito título Oranges.
Ao longo da jornada, Gibbons e McPhee alimentam-se de dentes de leão, azedas, cogumelos-ostra, agriões, chicória ou chás variados, desde menta a caruma de pinheiro (surpreendentemente agradável).
McPhee não cai na tentação de elogiar tudo, mostrando critério, mas chega ao fim mais gordo (ou menos magro) e revela brilhantemente a personalidade extraordinária de Gibbons. No fim, o jornalista sintetiza assim a filosofia gastronómica do seu guia:
“Ele não está a tentar provar que a comida silvestre é melhor do que a comida domesticada, ou que é capaz de sobreviver sem a ajuda de um merceeiro. Aparentemente, ele não está a tentar provar mais nada a não ser que há uma admirável variedade de boa comida no mundo e que só uma modesta parte dela pode ser encontrada no mais super dos supermercados”.
Gibbons – ex-comunista, ex-Quaker, ex-alcoólico – era um homem que experimentava tudo.
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